Thursday, October 20, 2005

Alice


'LIBÉRATION' - Um filme português fora das normas, de uma singularidade absoluta... que nos conta uma história terrível, da perda de uma criança.
'VARIETY' - Um poderoso estudo sobre a dor profunda e que nos transmite a segura e consistente primeira obra do estreante Marco Martins.
'LE MONDE' - Uma crítica à sociedade urbana contemporânea. Brutal e violento, esporadicamente iluminado por momentos de humanidade

Confesso que não sou espectador assíduo de cinema português. Mas quando vi o trailer de Alice fiquei curioso. Uma história aparentemente simples e comovente, uma banda sonora que me pareceu muito boa e um prémio em Cannes (Jeunes Regards) foram argumentos suficientes para me convencer a assistir a este filme. E felizmente as minhas expectativas confirmaram-se. Alice, escrito e realizado por Marco Martins, tem interpretações sólidas, um argumento bom (aqui e ali a precisar de alguns ajustes) e uma banda sonora que serve o filme na perfeição (parabéns Bernardo Sassetti). A história emocional e comovente de um casal cuja filha desaparece dá corpo a um filme negro, com uma fotografia maioritariamente escura que se conjuga com os sentimentos das personagens. O dia-a-dia caótico de uma grande cidade, a deslocação de milhares de pessoas de casa para o emprego, a solidão e o sofrimento são retratados com mestria pelo escritor/realizador.
Nuno Lopes (pai de Alice) tem uma interpretação muito acima da média e mais uma vez saliento a música minimalista, que nos transporta para aquele mundo e nos aproxima das personagens. Aliás, arrisco mesmo a dizer que sem o som (também muito bem conseguido) e sem esta banda sonora, o filme perdia metade da sua intensidade. Aconselho a quem gosta de cinema assistir a este “Alice”, nós que tantas vezes menosprezamos o cinema português. Com filmes destes o cinema nacional vai por bons caminhos, e daqui para a frente só podemos esperar que os novos talentos coloquem a fasquia mais elevada.

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