Thursday, April 09, 2009

As'baladas' de Coltrane

Descobri recentemente um disco doce, suave e belo. Ou, para ser mais preciso, foi ele que me encontrou e chegou até mim, entregue com um gesto especial. Olhei para a capa; conhecia os músicos mas não o álbum em causa, apesar de ter sido lançado pela Impulse! em 1962.

Peguei no vinil, coloquei-o no prato, e assim que a agulha tocou na superfície do disco, o meu quarto foi invadido por uma melodia inebriante vinda do saxofone. Não foi de admirar, já que quem o estava a tocar era John Coltrane. Senti-me como a personagem principal do livro "Dança, Dança, Dança" de Haruki Murakami, que a meio de uma viagem decide ouvir "Ballads" numa cassette (a história passa-se no final dos anos 80) e cantarolar os solos de Coltrane enquanto guia o seu Subaru.

Para mim, 20 anos mais tarde, ouvir o LP do quarteto de John Coltrane tornou-se também uma experiência relaxante e enriquecedora musicalmente. A acompanhar Coltrane, um trio de luxo: McCoy Tyner no piano, Elvin Jones na bateria e Jimmy Garrison no baixo. A simplicidade que Coltrane imprime em "Ballads" contrasta com grande parte da sua discografia, levando alguns críticos a afirmar que o saxofonista fez este álbum devido a pressões por parte da Impulse!, com quem tinha acabado de assinar um contrato de representação.

Não sei se foi isso que aconteceu, nem sequer me preocupa; certo é que estas baladas têm algo de diferente. O toque de Coltrane faz com que não sejam mais umas no grande - e prolífico em lançamentos - mundo do jazz. Em "Ballads", o saxofone de Coltrane 'canta' linda melodias que nos fazem viajar para outros tempos e outras realidades. O piano de McCoy Tyner é omnipresente e à altura do mestre do sax tenor.

Quando se ouve "Ballads" de uma ponta à outra, o tempo parece não passar. É essa uma das grandes magias da (boa) música...
Infelizmente não encontrei vídeos de nenhuma das músicas que fazem parte do alinhamento de "Ballads". Fica aqui uma gravação de Coltrane com o mesmo trio que gravou esse disco:



Queria ainda aproveitar para felicitar Francisco Amaral e o seu "Íntima Fracção" (que desde Abril de 2008 se pode ouvir em exclusivo no Expresso), que ontem completou 25 anos. Um quarto de século a dar a conhecer boa música a quem gosta de ouvir e sonhar. Parabéns!

1 comment:

Anonymous said...

Justo o que eu procurava sobre bateria fire. Obrigada!